sábado, 11 de abril de 2009

Sonetos aos domingos

SONETO DO CORAÇÃO

Lá longe um tambor ecoa
toque de recolher
dá vontade, com o ouvido à toa
seguir esse tum-tum bater

Invoca essa cadência
a penetrar num turbilhão
toca o clamor da ausência
a marcha por um forão

som longínquo de quimeras
batidas do coração
ato contínuo nas veias, no peito em recessão.

Não falha este velho coração
Continua afora o compasso
Sem tempo, sem exasperação



SONETO DO TEMPO PERDIDO

Contenta da felicidade o pêndulo
nos extremos de corações opostos
nem tanto pela ausência de âmago
que pelos seus mais tacanhos pressupostos

Segue a tocar nos batentes
em freqüência atemporal
balouçando entre virtudes decentes
e o mais escorregadio lodaçal

No limite da felicidade a aventura
encerra o ato desce o pano
para na vida, à certa altura, omitir o profano.

Hora do badalo que produz o tempo
tempo entre os batentes de amor e ódio
vida refém desse tal relógio

O que é eterno ?

.
.
AURORA DO ETERNO


(a Carlos Drumond de Andrade)


De manhã
o Poeta adormecido não despertou
luz do Sol
aurora dos pássaros
claro horizonte
rumor das gentes
nada despertou seu sono
o sonho último eterno.

Acordam palavras órfãs
trovas e crônicas nasceram
não vão amadurecer
frases soltas no tempo
prosas arrependidas
nunca mais vazarão da pena

Noite de lua
cheia de prata de noite inteira
ah! vida matreira
conflitos d’alma
amor exala dos corpos que gemem
o dia vem vindo
outro dia
retrato na parede

Amor eterno
o que é eterno?
Yayá diria ser
eterno é você.