terça-feira, 31 de março de 2009

PALAVRAS, PALAVRAS...

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SEDUÇÃO DAS PALAVRAS

Oh! palavras, palavras
seduzem - me
eu as quero nuas
desfilando de frente
passando de costas
rolando em minha cama
verbetes chamando

Oh! palavras, palavras
entrem pelos olhos
adoráveis ninfas
escorram em mim maduras
apartarão de mim anciãs
pela boca e mãos

Oh! palavras, palavras
de todo calão
adúlteras catarinas
paquequer, guaicurus, guarani
escada de meretrizes.
subi e amei

Oh! palavras, palavras
proibidas, reprimidas
horizonte cinzento
vigiadas, punidas
silêncio imposto
corri e gritei

liberdade imposta
numa janela aberta
niguém desperta
o vazio voa
desconsolo à mostra
Ó palavras, palavras
viví e calei


HORIZONTE DAS PALAVRAS

Toda palavra, além da fachada
contexto significante
literalidade e sinonímia
é mais que apenas efígie

Por trás da porta que a atravessa
da chave que a destranca
há palácios, há ruínas
selvas e montanhas

Contam os antigos
lendas sobre o horizonte das palavras
depois do encontro do céu e terra
além dali, no improvável

Há palavras e expressões nunca exploradas
enterram tesouros, obras inteiras
perdidas no deserto árido do inédito
intactas sob gelo da imaginação.

segunda-feira, 30 de março de 2009

MEU HERMANO WALTER

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DE PAZ, DE CORAÇÃO

Por eu ser assim
de paz, de coração
eu amo as pessoas
e quanta gente mais

vier de onde eu vim
de um lugar
onde o amor
é o primeiro sentimento
que se sente
ao abrir os olhos

Por eu ser assim
se paz, de coração
eu só lamento
ver tanta gente assim

que não viveu esse
momento de harmonia
entre o ser e a crição
esse instante de magia

onde a vida sopra vida
nos põe no vento

domingo, 29 de março de 2009

O QUE É SER POETA ?

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MEU CARO BARDO

Tua poesia não precisa de forma
e tu não precisas de um estilo
não podes criar sob uma norma
mas antes de o dar a lume deves senti-lo

Se te vem em prosa que prosa seja
que seja soneto se um soneto é que desenha
pois bem, agora veja:
não deixes de o escrever qualquer que venha

Tua memória é um pasto
não importa qual capim
se relva tenra é teu latim

lança-te ao mundo
anuncia-te meu caro bardo
fujas de ser um poeta tardo !



PRENDAS POÉTICAS

Não vos obrigueis aos versos
tampouco deveis escrever por empreitada
para não acontecer de vos escravizardes
pela palavra e ela vos dominar
deveis, ao contrário, cavalgá-las
docemente, sem freio, esporas, arreio, em pêlo

Se iniciais vossas prendas poéticas
deixai escrever toda palavra, todo verso
todo poema, toda prosa
deixai assim sair como colostro
antes do leite mais puro
Os primeiros serão, quase sempre, desabafo e desatino

Quanto mais escreverdes tanto mais primor.
Talento é luxo das virtudes.
Não espereis condecorações
nem prêmios ou méritos
o mundo é infame
leitores escassos

Evitai o escárnio, deletério, ultraje,
bajulação, incensação, arrogância
poderíeis atrair apatia, adoecer almas

contudo, nada vos é defeso
apófases, catáfases, antônimos
e tudo mais que for expressão vossa

Não declineis, nunca, à ignorância
podendo, doai livros, emprestai dicionários
jogai uma corda
a palavra acolhe
a palavra cura
a palavra salva

sexta-feira, 27 de março de 2009

SEXTA DA RIMA

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CONFLITO DA RIMA

Rimar ou não rimar ?
eis uma questão literária
existencial na poesia
aquém de modernismo
e estilos de época

Rimar ou não rimar ?
eis a questão salutar
retrocedente
ulterior
recorrente

Sem rima é o texto
terminais abertos
narrar de contexto
períodos e frases
não-versos

Rimar ou não rimar ?
masculina, emparelhada
feminina, alternada
aguda, consoante
coroada, toante

Rimando exulte
sem nenhum escrúpulo
ante quem exaltado avulte
ser esdrúxulo
rimar dissonante

Rimar ou não rimar ?
opulenta, intercalada
interpolada, pobre
cruzada, encadeada
popular, nobre

Herdado no sangue lusitano
conflito de além-mar
do soteropolitano
para a nação a espalhar
a pensar da poesia:
rimar ou não rimar ?

quinta-feira, 26 de março de 2009

DE CORPO E MENTE E ALMA

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ELOGIO DAS NÁDEGAS

Nádegas,
creem estudiosos no assunto
não estão no corpo num simples estar junto
mas como importante e vistoso adjunto

Às nádegas
deem alcunhas e nomes
apodos os mais infames
popa, buzanfa, bunda
mas elas guardam grande e profunda
relação de construção e identidade
com a personalidade

Nas nádegas,
leem pessoas entendidas
todas as emoções e dissabores
conforme estejam exuberantes
ou contraidas

Nas nádegas veem
quem as observam testo
juntos coração e mente
e isso desmente, categoricamente
o abismo entre intenção e gesto

Nádegas vêm
passam desfilando grudadas nos sexos
as fêmeas não as disfarçam
deixam os machos perplexos
abusam de sua potencia
que potencia as nádegas têm !

Nos gomos que se abraçam
cada modelo é exclusivo
se pouco apelo contêm
ou rebolado agressivo
naquilo que às nádegas convêm
de ser o gostoso cativo

quarta-feira, 25 de março de 2009

Identidade

O pico que sumiu

Eu nasci numa cidade
lá na Serra do Esmeril
perto de Capoeirana
e de um pico que sumiu

Uma poeira desse pico
matiza o céu azul de anil
eu só conheci metade
desse pico que sumiu

Para onde levaram o pico ?
qual deu o arrancou varonil ?
O homem remove montanhas
depois se descobriu

Foi assim que o pico sumiu

terça-feira, 24 de março de 2009

SE PUDER, TODO DIA UMA POESIA !

Tudo aquí expresso e exposto é de minha autoria.
Se não for merecerá aspas.

Um dia sonhei ser poeta, escritor
mas veja, leitor
sonhos acabam em poesia.

Daqui da internet
na minha festa de babete
será um poema por dia

do que leu
Vou saber se gostou
pelo que postou

Aí vai...


DERRADEIRA POESIA

I

Escrevo de modo derradeiro.
Cabal. Qual se na vida
último dia a morte chegada
ceifa em punho
aguarde o último verso
decisiva palavra.
Tudo é o que fica pronto

Havendo outro dia
o que foi não conta
outra etapa
outra história.

A sobrevivência esfaimada
devorou o talento
sua fome desvairada
o fez de alimento

Nesse tormento
trabalho todo dia
minha poesia
garimpo, lavro, lapido

apesar do trabalho sofrido
nem sempre tenho gema
não raro o poema
é um belo pedregulho

Sobre aquele entulho
às vezes, choro o espúrio
e me demoro a ver ali augúrio

escreverei o tempo
da visão do outeiro
quando abrir a porta
entrarei primeiro

já não há rota
nada surpreende
a poesia se esgota
mas transcende

II

Uma poesia faminta
devoradora, parasita
aflita, reprimida
um jogo de palavras
desfalque de dicionário

Incômoda da literatura
supérflua para minha classe
e mais, que disseram :

Ignorada que é inédita
inédita que não se conhecerá
um canto maldito
incompreensível. Será ?

Apodrecendo por fora
intacto por dentro
sem motivo para orgulho
sem causa para revolta

III

Todo dia, assim vagueio
volto àquele turbilhão
Escavo um pouco aquela mina
na esperança de veio

Sob um lume que ilumina
Repasso palavra por palavra
ensilo a sieba, mas não descarto
que é para os dias difíceis de lavra

Esse fórceps de alívio de parto
de extrair rima e remorso
o estopim, o explosivo
essa canga no dorso

Um comportamento invasivo
Expressão pueril
Esse alforje de ferramental
sujo de esmeril

E o jeito mineiro de querer:
garimpar quando escreve
minerar quando pensa
É doce herança itabirana

segunda-feira, 23 de março de 2009

Para comerçar..

Sem foto, sem editor, sem perfil, rendido
um ego opaco, uma vaidade caida
só uma vontade de ser lido

Subi um morro, desci uma rua
ela não tinha saida
olhei entre o muro e a lua

Vi numa via larga sem largura ou comprimento
gente sem corpo, como que por magia
lia ! como nunca se viu em nenhum momento

Pensei: para que chorar por um livro
pelo amor do editor, se alí convivo
diuturnamente com o leitor

Farei minha festa de babete
com a minha poesia
aqui mesmo na internet